Como
parte da programação cultural do Estado de Pernambuco para a Semana da
Consciência Negra, o Museu de Arte Contemporânea de Olinda hospedou o
evento conhecido como Cozinha: consciência negra das artes na contemporaneidade,
organizado pela 3ecologias.net, com apoio da Fundarpe, e curadoria de
Mãe Beth de Oxum, Edson Barrus e Ricardo Ruiz: interlocutor que aqui vos
escreve. O evento trazia em seu cerne a ocupação do museu como convívio
entre artistas e público, contemporâneos em seu tempo e em sua ação no
universo estético, político e social. Buscava atrelar atuações
supostamente distintas sob uma mesma lona: batuqueiros, capoeiristas,
cientistas, tecnólogos, músicos, bailarinos, artistas plásticos e
visuais. As ações, discussões e apresentações do evento tinham como fio
condutor o milenar ato de cozinhar – inegável arte tão atrelada com a
cultura de matriz africana e sua miscigenação na diáspora brasileira.
Esse texto é uma breve reflexão sobre o festival e suas relações no
campo da arte, da política e dos afetos.
Culinária como roteiro
No site do evento aqui analisado, salienta-se a citação da Michel de Certeau:
“Os
hábitos alimentares constituem um domínio em que a tradição e a
inovação tem a mesma importância, em que o presente e o passado se
entrelaçam para satisfazer a necessidade do momento, trazer a alegria de
um instante e convir às circunstâncias”
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Além, no texto de apresentação o festival define-se como um
“Laboratório
de vivências em arte contemporânea, tecnologias e culturas livres.
Espaço para a memória múltipla, a inteligência programadora, a
receptividade sensorial. A engenhosidade que cria artifícios, a
capacidade inventiva da mini estratégia. O improviso. A inteligência do
bem comum. A arte de cozinhar para todos. De todas as crenças, raças e
amores.”
Michel
de Certeau, na sua clássica análise dos bairros do centro histórico de
Paris para o Ministério da Cultura Francês, mostrou a importância que a
culinária do cotidiano e as táticas desenvolvidas por suas cozinheiras
são um patrimônio parisiense, tão rico quanto as edificações do século
XVI. Mais envolvente quanto suas comidas – ato de amor e de expressão –
eram os afetos e efeitos da cartografia transitada por essas mulheres
pela cidade em busca do melhor desconto, do melhor ingrediente.
Associando-os ao ato de escrever, e como consequência, construir uma
linguagem própria, acreditava que eram nesses atos simples – o que ele
definia como as “Artes de fazer”: morar,
cozinhar, transitar – que o ser humano se tornava capaz de criar
subjetividades, potencializar sua existência e, o mais importante,
reorganizar a ordem estabelecida através de seus próprios hábitos. Os
verdadeiros movimentos de rebeldia estavam no dia a dia.
O
GIA – Grupo de Interferência Ambiental é um coletivo de arte
contemporânea que há 16 anos atua no mundo todo a partir de seu Quartel
General em Salvador, Bahia. Dentre suas inventivas ações performáticas
no espaço público, salientamos os pic-nics sob viadutos e a intervenção Gia cozinha pra você, em que ocupam museus e centros culturais com saborosas obras de arte. Em seu catálogo, expressam:
Aleatoriedade,
humor e reflexões a respeito da vida cotidiana e suas singularidades:
talvez esses sejam pontos chaves do GIA, coletivo artístico que foge a
qualquer tentativa de definição. O grupo é formado por artistas […] que
têm em comum, além da amizade, uma admiração pelas linguagens artísticas
contemporâneas e sua pluralidade, mais especificamente àquelas
relacionadas à arte e ao espaço público. Pode-se dizer que as práticas
do GIA beberam na fonte da arte conceitual
Para ler o texto completo, é só
clicar aqui
ou copiar o link: http://cozinhanegra.wordpress.com/a-ancestral-idade-cozinha-e-arte-contemporanea/